Depois de muitos anos sem escrever poesias, finalmente consegui me desbloquear um pouco e escrever umas duas. A primeira, que já tinha começado a escrever há um tempo, consegui terminar depois de escrever o post anterior. Ela envolve aspectos específicos e particulares demais, e postar ela aqui seria uma exposição desnecessária, mesmo que a privacidade, hoje em dia, seja uma ilusão, e o número de leitores do meu blog tenda a zero fugiria um tanto do objetivo do blog.
A poesia que quero postar aqui, foi a segunda que escrevi. Superficialmente falando, a motivação veio de uma série de reflexões que tenho feito atualmente (alimentadas também por discussões de podcasts em psicologia e neurociência que já assisti). Estou em uma fase de muitas mudanças, que envolvem diferentes aspectos da vida (incluindo a possibilidade de fazer pós-doc na França por alguns meses). Essas reflexões foram reforçadas por conversas com pessoas próximas que também estão passando por esses turbilhões de mudanças, dessas que chegam sem avisar. Quando essas coisas acontecem, muitas vezes ficamos "sem chão". A sensação de ter que começar tudo de novo, quando você achava que estava com a vida resolvida, pode te desnortear. Essa poesia é uma tentativa de encarar esses processos de mudança, que envolvem muitos aspectos novos e desconhecidos, com um olhar otimista.
A permanência, nessa vida curtíssima que vivemos, é uma ilusão. Mas a lente que você usa para observar a paisagem, ao longo dessa jornada que é a vida, faz bastante diferença. Acho que a curiosidade é uma das melhores lentes que você pode usar em um conjunto absurdo de contextos: situações novas ou que envolvem conflitos, contato com opiniões diferentes, etc... basicamente coisas que envolvem o desconhecido, nem que ele esteja apenas na forma de encarar as coisas. Gosto de pensar nessa lente mais como um exercício voluntário, cujo esforço depende de quanta energia você tem disponível no momento, do que um talento ou uma obrigação.
Aproveito e deixo (no final do post) uma música que acho que tem tudo a ver com a poesia.
O Desconhecido e a Curiosidade
O frio na barriga, que brota da mudança?
Quem sabe a motivação, que nasce do otimismo?
E que se inspira em meio a uma boa lembrança?
Ele se esconde atrás de experiências não vividas,
Te leva por caminhos sem mapas ou guias,
Te faz abandonar certezas perdidas,
Cantar e dançar com novas melodias.
E nessa busca por tentar enxergar,
Nessa necessidade que temos de prever,
Nesse medo que temos de falhar,
Nos confundimos e tendemos a esquecer...
Do presente que ele pode nos dar,
E da dádiva que ele tem a oferecer.
Um novo pôr-do-sol a aquarelar,
Uma nova aventura a tecer.
Ele é um velho amigo da Curiosidade.
Com eles você embarca em uma viagem.
Em meio a névoas e novidade,
Você aprende uma nova linguagem.
Eles te cobram apenas a passagem,
E o preço pode ser a ingenuidade.
Sem seguro contra dano da bagagem,
Você se vê à beira da insanidade.
A quem aprecia vulnerabilidade,
O melhor seria pagar com a coragem,
Que não te promete apenas tranquilidade,
Mas te permite apreciar a paisagem,
Como uma escolha, e não imaturidade.
Viver a vida de verdade,
Às vezes requer um passo de fé.
Mergulhar num oceano de possibilidade,
Mas sabendo observar a maré.
Não me refiro ao Cinismo,
Que entre o medo e o desdém,
Traz apenas pessismo,
Te fazendo de refém.
Por isso, ao longo dessa estrada,
Temos de escolher o que levar.
E ao chegarmos em uma encruzilhada,
Decidir com quem viajar.
O Cinismo, sempre pronto a se armar,
Que carrega a certeza de ser iludido?
Ou a Curiosidade, com a coragem de encarar,
Que traz junto a incerteza do Desconhecido?
E quando tiver que doer,
Quando o mundo desabar,
E o céu se escurecer,
E a chuva te molhar...
Se a tempestade te fizer sofrer,
Se você tiver que chorar,
E de tudo você quiser correr,
Procure sempre lembrar...
Depois da noite vem o amanhecer,
E com ele a chance de explorar,
O que o Desconhecido tem a oferecer,
Se ao lado da Curiosidade ele caminhar.
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