sábado, 6 de novembro de 2010

A Mutabilidade do Método Científico

Resolvi falar um pouquinho sobre o método científico, devido a coisas que têm me feito pensar bastante à respeito...dessa vez não vou me estender muito (assim espero) até por falta de tempo...

Bom, pra introduzir o assunto, quando dizemos "O Método Científico" estamos, na verdade, fazendo referência a um conjunto de métodos de um tipo muito especial: por isso a classificação. A questão que quero analisar é: quais os tipos de critérios utilizamos para fazer esse tipo de classificação? em outras palavras,  o que diferencia estes métodos dos outros, tornando-os especiais?

Gosto muito de "raciocinar por eliminação", ou seja, analisar de que maneiras algo não pode ser feito e então verificar as possibilidades restantes. So, let's do it!

Uma característica comumente apontada como fundamental, no método científico, é a falseabilidade. Existem ao menos duas definições de "falseabilidade", as quais muitas vezes são usadas como se fossem equivalentes. São elas:
  • possibilidade de testar se algo é falso ou verdadeiro.
  • possibilidade de mostrar que algo é falso.
Embora essas duas definições se pareçam, elas contêm grandes diferenças. Eis o motivo: é impossível mostrar (consistentemente) que uma coisa válida é inválida,  dentro de seu limite de validade. Por exemplo, é impossível provar que a raiz quadrada de dois é um número racional, prova-se exatamente o contrário. Portanto a afirmação "a raiz de dois é um número irracional" não é  falseável, no sentido de ser possível demonstrar sua falsidade, e sim no sentido de ser possível demonstrar sua falsidade ou validade (validade, no caso).

A falseabilidade (como definida no primeiro item)  é importante sim no método científico, mas não é suficiente.  Como eu comentei no post anterior, a possibilidade de testar algo é altamente geral. Não há nada de muito especial nisso, a quantidade de métodos que podem ser encaixados aí é gigante, inclusive métodos com aproximadamente nenhuma  sistematização (se é que podemos chamá-los "métodos").

Bastante próxima à questão da falseabilidade, temos a questão da mutabilidade. Uma outra característica apontada como crucial, no método científico, é a possibilidade de mudanças: não há uma verdade imposta e absoluta, sempre que necessário podemos alterar os métodos e com eles  nossa visão de mundo.

Embora eu considere essa posição válida, em certo sentido, também a considero altamente perigosa, devido ao que ela pode vir a sugerir. A  possibilidade de mudar os métodos é altamente necessária. A possibilidade de aperfeiçoamento é muito importante (não apenas em ciência, mas em todas as áreas). Isso está relacionado ao fato de que ninguém tem todas as informações sobre tudo (isso não significa que não existam verdades absolutas, até porque isso é ilógico, significa apenas que nosso acesso tem limites, viéses, etc.),  ninguém pode dizer que entende tudo sobre tudo e que não tem mais nada a  aprender (o que não implica necessariamente em, a cada nova etapa, jogar fora tudo que se aprendeu na etapa anterior, embora possa ser necessário em  algumas situações). O lado perigoso dessa postura é supor que a possibilidade de aperfeiçoamento implica em sempre podermos mudar tudo completamente. Por exemplo, "hoje, ao aplicar meus métodos (que já se mostraram válidos nesse contexto) eu descubro que o mundo funciona de tal jeito, mas amanhã eu posso descobrir métodos que me digam exatamente o contrário". Isso se chama pseudociência. Mas é importante destacar um ponto que ajuda a gerar esse tipo de idéia: a diferença entre conclusão filosófica e trabalho científico.

Um método que já se mostrou válido continuará válido dentro de seu limite de validade sempre e eternamente (bom, talvez se as leis da natureza mudarem...  mas acho que não sobreviveríamos pra verificar...). Já conclusões filosóficas  tendem a mudar com uma freqüência bem maior (quando associamos a ciência à filosofia temos a impressão de que ciência é uma coisa completamente instável, nada confiável, diga-se de passagem). Mas porque isso? Devido à principal característica do método científico, que o diferencia dos outros e o torna especial: sitematização formal (métodos matemáticos). Embora filosofia possa ser feita de maneira sistemática, toda a maneira como ela é construída a torna muito menos confiável, a começar pela linguagem em que ela é expressa: não formal (não matemática). Linguagens não formais são bem mais confusas e limitadas. Como exemplo, analisemos a questão do "início" do tempo.
A seguinte frase pode não parecer absurda, inicialmente, mas formalmente a questão que ela levanta é totalmente descabida: se o tempo teve um início, o que havia antes do tempo?

Antigamente essa era uma questão bastante discutida por filósofos (não me peçam pra citar, não lembro). Se acreditava, inclusive, que o universo era eterno. Mais tarde, devido a descoberta do Big Bang (formalmente, no início), embora inicialmente bastante ridicularizado (esse nome, inclusive, foi dado de maneira pejorativa), a comunidade acadêmica acabou aceitando sua validade (devido a quantidade massiva de evidências) e rejeitando a idéia de que o tempo não teve um início.

Note-se que a concepção filosófica a respeito do universo, dos cientistas (Einstein, inclusive), não era baseada em ciência e definitivamente não era ciência. O que mudou não foi a ciência e sim as conclusões dos cientistas.

Mais um ponto importante que eu gostaria de levantar, é a questão do que significa  um método, modelo ou teoria ser válido. Um modelo válido deve poder fornecer resultados válidos. Um exemplo é o Modelo dos Epiciclos, para as órbitas dos planetas: sabemos que elas não são circulares e sim elípticas, mas o modelo fornecia resultados válidos dentro de um certo limite. Ele era uma aproximação da realidade e continua sendo até hoje. Continua válido dentro de seu limite de validade.

Fugindo um pouquinho desse assunto, há uma questão interessante no modelo dos epiciclos: ele é uma aplicação ruim da Navalha de Occam. A Navalha de Occan diz que devemos optar sempre pelo mais simples (essa é uma maneira de colocar). Sendo assim, parece muito mais simples criarmos um modelo em que as órbitas são circulares e não elípticas, já que círculos são muito mais simples do que elípses. No entanto, verifica-se que o modelo dos epiciclos é muito mais complicado do que o modelo das órbitas elípticas. Isso nos diz algo muito importante e talvez meio óbvio, algo que é localmente mais simples não necessariamente é mais simples globalmente, isto é, quando analisamos o quadro completo.

Bom, acho que por enquanto era isso...sintam-se livres pra comentar, criticar, etc..

8 comentários:

  1. É por essas e outras que eu discutia tanto com um professor da disciplina de Metodologia Científica, ele era filósofo... Foi um semestre sofrível :P

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  2. heheh

    pra não dizer que a gente só fala mal, a filosofia também tem sua importância né, assim como os filósofos...só que manter um (ou dois) pé(s) atrás, sempre é bom... =p

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  3. só tenho uma coisa pra te dizer Diego: =p

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  4. Não, não quis dizer que vc só fala mal.
    O tempo é absoluto,ele sempre esteve...nós cristãos o chamamos de "Deus".hehehe

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  5. bom, a definição que usamos em física não é essa...na verdade é a primeira vez que ouço essa definição...

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  6. mas os cristão bíblicos não acreditavam que o tempo não teve um início, ou seja, que o universo não teve um início, até porque toda a idéia de um criador iria por água a baixo...

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  7. Mas a idéia é que o Criador sempre foi;ele sempre existiu.Por isso ele é o "absoluto".

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