Outro exemplo, um pouco mais interessante, é o das famosas "verdades absolutas". Trata-se da seguinte expressão: não existem verdades absolutas. Eis mais algumas expressões que seguem a mesma linha:
- Toda regra tem sua excessão.
- Eu não possuo crenças(no sentido de "eu não acredito em coisa alguma").
- Eu não possuo não-crenças(no sentido de "eu acredito em toda e qualquer coisa").
- Eu sempre minto.
Em princípio, podemos fazer uso da seguinte expressão lógica para definir o que são 'verdades':ou seja, se a condição A é satisfeita, então B é necessariamente verdade. Caso A não seja satisfeita, B pode ou não ser verdade. Eis um exemplo:
- Condição A: morte do ser humano X.
- Afirmação B: o ser humano X não está respirando espontaneamente.
A morte de X implica em ele não estar respirando espontaneamente. Sendo assim, sempre que sabemos que alguém está morto, sabemos que essa ex-pessoa não respira. No entanto, o fato de um ser humano não estar respirando não implica necessariamente em ele estar morto, caso contrário morreríamos toda vez que mergulhássemos em piscinas, e voltaríamos à vida quando saíssemos para respirar...
Um dos problemas aqui, é que se não pudermos obter informações diretamente de B (sendo B uma afirmação qualquer), referentes à sua veracidade, seria necessário conhecimento a respeito de alguma condição que necessariamente implicasse em B (ou não B), caso fosse verdade. Esse tipo de problema não ocorre com as chamadas 'Tautologias'. Eis um exemplo de tautologia:
ou seja, A ou não A. A operação ou (símbolo V) faz com que a expressão lógica acima seja verdadeira quando a proposição da esquerda é verdadeira (A), independente da veracidade da proposição da direita, ou quando a proposição da direita (¬A) é verdadeira, independente da veracidade da proposição da esquerda. Sendo assim, uma tautologia é uma verdade absoluta já que ela é sempre verdade independente do valor de A.
Mas, voltando às questões relacionadas ao conceito de "normal", o que seria um ser humano normal? o que seriam atitudes normais?
(momento "excessivamente filosófica mode on")
Bom, vamos à minha opinião. Todas as nossas atitudes têm algum tipo de conseqüência. Parece razoável afirmar que estas conseqüências influenciam em algum nível as outras pessoas. Isso ocorre principalmente porque vivemos em sociedade. Algumas atitudes claramente são prejudiciais tanto para nós mesmos quanto para os outros (provavelmente uma acabará implicando na outra em algum momento). Outras são prejudiciais, mas não tão claramente (às vezes precisamos colocar o dedo no fogo pra perceber que dói). Existem atitudes que são prejudiciais principalmente devido a questões culturais. No entando, existem também atitudes que são prejudiciais devido a coisas mais básicas, questões relacionadas à biologia, física e por fim matemática. São esses os tipos de atitude que eu considero não-normais. Sendo assim, as atitudes não prejudiciais são atitudes normais. Esses dois tipos de atitude, conceitualmente falando, aparentemente dão origem ao que as pessoas costumam chamar de "certo" e "errado" (embora esses conceitos acabem mudando de acordo com a cultura).
Quanto a "seres humanos normais", todos sabemos que nascemos com defeitos de fábrica. Sendo assim, provavelmente não existem seres humanos normais. Também percebemos que existe uma certa relação entre atitudes normais/anormais e pessoas normais/anormais por ambos os lados, isso é, uma pessoa com maior grau de anormalidade terá uma tendência maior a agir de maneira anormal, por outro lado atitudes anormais podem aumentar o grau de anormalidade das pessoas. Para o primeiro caso temos como exemplo a necessidade da existência de cadeias e manicômios, para o segundo sabemos, por exemplo, que um filho de uma pessoa alcólatra provavelmente terá uma tendência maior a se tornar alcólatra (devido a questões genéticas). Sendo assim, aparentemente as anormalidades são altamente normais, no que diz respeito à sociedade...=p
Resumindo:
- se verdades absolutas não existem então existe ao menos uma verdade absoluta;
- se toda regra tem sua excessão então esta regra também tem sua excessão. Logo, nem toda a regra tem sua excessão;
- se eu não possuo crenças então eu possuo a crença de que não possuo crenças. Logo, possuo ao menos uma crença;
- se eu não possuo não-crenças então eu não acredito que possuo não-crenças. Logo, possuo ao menos uma não-crença;
- se eu digo que sempre minto esta deve ser uma mentira. Logo, eu nem sempre minto;
- pessoas não normais são normais =p...(se usarmos simultaneamente duas das definições do dicionário)
Moral da história: é tudo uma questão de definições (as quais podem ser consistentes ou não).... =p
Oh my dog... Sandi, get out of this room, you are going insane. P
ResponderExcluirBtw, I remember that this kind of thoughts used to make a sort of mess in my mind when I was a child. I rly liked your approach...
I don't know why I'm writing in english... I need to sleep... :P
=p
ResponderExcluirnada como o apoio da família XD
http://www.youtube.com/watch?v=7U4QZnBNIYI&feature=related
ResponderExcluir=p
hahahahahaa, adoro essa música :P
ResponderExcluirOlá Sandi, é um post muito interessante. Parabéns!!!
ResponderExcluirA respeito de definições, fica uma sugestão para um futuro post: Teoria Axiomática dos conjuntos; Conjunto Universo e o Infinito Absoluto de Cantor; Teorema da Incompletude de Gödel. Seria proveitoso a muitos...
Por exemplo, "nós" (físicos) lutamos para encontrar uma teoria final para descrever a Natureza. Mas seria essa uma questão matematicamente consistente =) ?
Obrigado, Rafael
Oi Rafael, obrigada! =)
ResponderExcluirGostei da sugestão, assim que der escrevo um post referente a estas questões...
Essa questão da consistência matemática de uma teoria para descrever completamente a natureza realmente é muito interessante...aparentemente bastante relacionada ao teorema de Gödel: se a base do funcionamento da natureza é infinita, poderíamos desenvolver uma "teoria finita" que a descrevesse completamente?
Se existem sistemas axiomáticos que só podem ser completos se contiverem um número infinito de axiomas, poderíamos desenvolver um sistema que contenha toda a matemática?
Sandi,
ResponderExcluirvocê capturou muito bem o ponto "nevrálgico" do meu "drama". Vou escrever um pouquinho mais no que estava pensando, é só para contextualizar o problema segundo a "nossa" (dos físicos) perspectiva.
Na física contemporânea, "teorias de tudo" (como as super-cordas) tem aparecido para tentar, num sentido restrito, permitir uma descrição unificada (segundo os postulados da mecânica quântica) "apenas" das forças nucleares, eletromagnética e gravitacional.
Basicamente os desenvolvimentos nessa área tem sido norteados exclusivamente pela consistencia lógica, não temos conexões com experimentos (ainda?). Em super-cordas a teoria parece que tem "criado a si mesma". Testes de consistência matemática fixam univocamente o número de dimensões do espaço-tempo, suas possíveis topológias, as formas de Kalabi-Yau de sua compactação e as simetrias (algebras) de Lie pelas quais as "cordas" são dinamicamente invariantes. Em 10 dimensões (d) há 6 teorias possíveis e em 11-d a teoria é unica! Costumam chamá-la Teoria-M (M de mistério).
O grau de abstração nessa área tem atraído muitos matemáticos "puros" e físicos teóricos, tanto que um dos maiores físicos-matemáticos vivos (Edward Witten) já foi agraciado com a Medalha Fields.
Contudo, fico perplexo com uma questão do tipo "ovo/galinha" que é a seguinte: "A matemática é criação ou descoberta humana?"
Explico-me em 2 passos:
1) Se for "apenas" uma criação humana, talvez quando a teoria física final for (se for) descoberta, teremos um algoritmo prático para "deduzir" todos os postulados da matemática e prová-los. Isso porque, em sintese a matemática reduzir-se-ia a um epifenômeno físico. Ou seja, a matemática seria compressível, ou redutível física.
2) Mas, se por outro lado a matemática tratar-se de uma "descoberta", da qual a mente humana somente captura tangencialmente, a Natureza talvez permita uma infinidade (não-denumerável?) de axiomas que não podem ser "algoritmicamente redutíveis" às leis da física. Se assim for, por construção, a Natureza seria o "Conjunto Universo" de Cantor, que poderia ao mesmo tempo ser auto-consistente e driblar o teorema de Gödel (não sendo sujeita à lógica clássica).
Se (2) for verdadeiro, como creio que seja, nunca haverá em princípio um "fim da física" e estudar matematica pura poderia ser elevado ao que no ideal de Einstein é: "entender a mente de 'Deus'".
Desculpe a extensão do post e o meu grau de divagação; não consegui ser mais conciso, o tema é abrangente e filosófico =)
Obrigado novamente, aguardo com ansiedade a perspectiva matemática do tema ... até uma próxima!
Rafael
Rafael,
ResponderExcluirbastante interessante o teu comentário...sinto que esses assuntos renderão mais de um post devido a abrangência: são aqueles assuntos do tipo "a vida o universo e tudo o mais" heheh
Bom, deixarei meus comentários sobre o tema para o próximo post =)
até mais!